É pena que Lula tenha perdido tempo preciosíssimo, o tempo, do qual disse Rui Barbosa que é o estofo de todas as obras primas, de todas as ações duradouras.
Perdeu tempo com sindicatos, com a Câmara dos Deputados, com palanques de candidato durante longo período. Se tivesse estudado, como fez o seu colega de sindicato e palhaço, o Arrelia, que se formou em Direito e chegou a exercer a profissão, não estaria fazendo previsões e afirmações que não influenciam ninguém, senão os companheiros com apetite de dinossauro.
Poderia, como o ex-presidente FHC falando línguas, se tivesse imergido nos estudos sobre o Brasil, poderia fazer afirmações seguras, nas quais toda a opinião pública iria buscar palavras para justificar a presença do presidente.
Sabe-se que tempo perdido não se recupera mais. Eu também perdi tempo na minha mocidade. Eu poderia ter aproveitado o Colégio Köele, em Rio Claro, onde eu residia, mas não me vi seduzido pelo germanismo, embora tivesse amigos que falavam muito bem a língua de Goethe. Perdi tempo e agora é tarde, é tropo tarde .
Já me habituei às traduções. Li todo o Max Weber nas traduções do Fondo de Cultura Econômica, do México, quando poderia ter feito como inúmeros intelectuais que se lançaram ao estudo do idioma complexo, mas rico, para os estudos de filosofia. Enfim, outros foram ou são como o Lula e outros que o acompanham. Vão lamentar ou já estão lamentando, mas é tarde.
Vêm estas considerações sobre suas afirmações a respeito da economia brasileira. Declarou ele que vamos ficar espantados com os resultados estatístico a serem publicados.
Mas o Lula dos comícios, da região da seca, que ele não acudiu, o nordeste dos desafios de viola mas sem recursos para proporcionar aos seus habitantes fixação nas localidades onde nasceram e no desenvolvimento industrial que lhes daria vida melhor e mais rentável.
Tenho a certeza de que um homem inteligente não soube extrair desse dom natural em si o que ele pode dar de proveitoso a todos os que se interessam por aprender o segredo das ciências e das doutrinas.
Provavelmente, dirá Lula que ele chegou ao tope. Certo, mas depois provavelmente dependendo da idade e da vontade de aprender, para conhecer melhor o país e o mundo. Não vimos essa força de vontade, mas vimos, e bem, a força de vontade para ser presidente da República. Nem assim, embora ele esteja lá em cima, reconheço que Lula, o retirante, o filho das regiões mais castigadas pelas soalheiras, que mantêm o verão permanente em Estados que mais deram flagelados ao sul do país.
Fiquemos por aqui. O que eu queria dizer está dito. O tempo tem de ser aproveitado, e bem, até mesmo cronometrado. Se todos assim fizessem, o mundo dos pobres e dos miseráveis seria diferente. Eles teriam, ao menos, alegria de poder compreender o que foi dito na televisão, sua única distração nas noites quentes da região.
Diário do Comércio (São Paulo) 14/06/2005