Pelas reações ao show de Madonna, os bolsonaristas odeiam também o sexo. Ou, como antigamente, talvez só o tolerem para fins de procriação. Mas onde fica esse antigamente? Não no nosso passado recente. Em 1970, por exemplo, entramos na era dos motéis. Com a chegada deles, nunca se trepou tanto no Brasil.
Com os motéis, mais homens e mulheres foram de repente para a cama (no caso, redonda) do que em todo o século 20 até então. E começaram a fazer isso de maneira oficializada, para fins institucionalmente imorais, não para a santificada reprodução —o sexo deixava de ser "pecado". Ir ao motel tornou-se um programa, algo a se fazer de manhã, de tarde, de noite ou, entre colegas de escritório, na hora do almoço. Adúlteros podiam se entregar ao doce esporte sem que alguém aparecesse esmurrando a porta. Casais nas bodas de ouro, já indiferentes ao sexo, viram no motel um regenerador do tesão. Nunca tantos hímens ficaram na saudade.
E olhe que estávamos em plenos anos Médici, quando uma frase dita em lugar e hora impróprios podia render prisão, tortura, exílio, morte. Era uma benesse da ditadura: enquanto praticava a mais brutal repressão política, abria-se às escâncaras para a liberação dos costumes. Não por coincidência —e não mesmo—, muitos motéis tinham generais e coronéis como sócios ou acionistas.
Pouco depois, nos anos Geisel, pulularam as casas de "massagem" e as pornochanchadas. Sob Geisel, o fio dental reduziu a moda de praia à quase extinção, e a nudez chegou em triunfo às famílias. Por que tanto liberalismo num país comandado por milicos grosseiros? Porque, como eles descobriram, quanto mais sexo e luxúria, melhor para o regime.
Os bolsonaristas, fãs da ditadura, não sabem disso. Se soubessem, não se chocariam com Madonna. Nada que ela fez no palco levantaria um sobrolho de Médici ou Geisel. Aliás, neles, não levantaria nada.