Para muitos, o assistencialismo é uma prática diversionista, pois camufla as necessidades reais profundas da nossa sociedade. É sempre difícil ao observador criticar os seus efeitos imediatos. Veja-se o caso do Bolsa Família, de que tanto se orgulha o Governo Lula. Há mais gente se alimentando, sobretudo nos estamentos mais pobres da população – e isso para os pragmáticos é o que interessa. No entanto, isso tudo tem um caráter eminentemente efêmero. Pode acabar com uma penada oficial – e o que restará? Possivelmente, mais gente revoltada, dada a perversidade do sistema implantado nos últimos anos.
Há sintomas de que a evasão no ensino médio, especialmente no Norte e no Nordeste, pode estar associada a essa ilusão de atendimento. Famílias recebem 130 reais e desestimulam os jovens em relação aos estudos, dando preferência ao trabalho precoce (quando existe) ou até mesmo demonstram leniência quanto ao afastamento da escola, sem compreender a sua importância para o futuro dessa geração de brasileiros. Pesquisas estão sendo feitas, mas ainda são incipientes.
A educação brasileira, universo de 60 milhões de pessoas, vive de espasmos. Tivemos a fase de crescimento do ensino fundamental. Agora, é a vez da “revolução” na educação média. Pelo menos, é o que anuncia o MEC.
Uma das inovações pretendidas é a introdução do módulo semipresencial, com o limite de 20% da carga horária total. A medida, para ser adotada nas redes pública e privada, precisa de amparo legal. Depende de autorização das respectivas Secretarias Estaduais de Educação, para a oferta de módulos complementares de estudos, com ênfase nas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC).
Na tarefa de reforço aos conhecimentos dos alunos, isso ainda não é uma garantia plena. Se as aulas forem mal dadas? Mas essa janela poderá significar um avanço apreciável, se bem conduzidas as novas tecnologias. Será uma sacudida nos currículos convencionais, o que advogamos há muito tempo. Aulas expositivas não são exemplo de mesmice? Fala-se também em exaustão do modelo.
Sabemos que no Brasil há 3,3 milhões de estudantes no ensino médio, com um dado trágico: a metade não conclui os estudos. Por quê? A escola não atrai?
Quando os olhos se voltam para a qualidade, temos outro dado aterrador: 50% dos matriculados, nesse nível, frequentam o ensino noturno, com a sua reconhecida precariedade. Se a Sociedade do Conhecimento exige 12 anos de boa escolaridade, temos muito o que se fazer. Há premente necessidade de valorização de professores e diretores, estes em geral entregues ao Deus dará. Quando o ensino é profissionalizante (só 8% das escolas de nível médio têm essa característica), os cuidados devem ser ainda mais especiais.
Aulas de redação e reforço são aconselháveis, aproveitando-se o avanço tecnológico assegurado pela internet rápida, presente em cerca de 10 mil escolas públicas. O emprego da educação à distância, permitido por lei, vale para casos emergenciais ou de complementação de estudos. Isso tudo merece muita reflexão.
Jornal do Commercio (RJ) 06/03/2009