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A boca está fechando

 

No jargão dos institutos de pesquisa, os gráficos de pontuação formam o desenho da boca de um jacaré. Quando os índices de um candidato são maiores que os do adversário, o desenho é de uma boca de jacaré se abrindo, e geralmente essa tendência se mantém ao longo da disputa. A boca do jacaré se abrindo é sinal de vitória.

Ao contrário, quando a boca do jacaré vai se fechando, devido à redução da diferença entre os dois candidatos, é sinal de que a eleição pode estar caminhando para uma vitória apertada de quem está na frente, ou para uma reviravolta, dependendo do tempo existente até as urnas e as circunstâncias da disputa.

As pesquisas apresentadas ontem pelo Datafolha e pelo Ibope mostram a boca do jacaré se fechando, embora os dois institutos indiquem que o mais provável é a vitória da presidente Dilma. O Ibope é mais ousado e afirma que a presidente está muito perto de ser reeleita. Já o Datafolha mostra um empate técnico no limite da margem de erro, e diz que o mais provável é que a presidente esteja na frente, sem, no entanto, cravar nada.

Os dois institutos mostram uma parada do crescimento da presidente Dilma e um movimento ascensional do candidato do PSDB Aécio Neves. Além dos erros que os dois mais conhecidos institutos de pesquisa cometeram no primeiro turno, há uma série de outros institutos menores ou menos conhecidos que apontam resultados distintos.

A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) apresentou uma pesquisa do instituto MDA que mostra Aécio Neves na frente por uma pequena margem: 50,3%
49,7% A seu favor está o fato de que foi o primeiro instituto a registrar a virada da presidente Dilma no segundo turno, de 50,5% a 49,5%.

Já no Vox Populi, ligado ao PT, os números são 53,4% para Dilma e 46,5% para Aécio. O instituto Sensus, ligado ao PSDB, dá o contrário: Aécio 54,6% e Dilma 45,4%. Tudo indica, portanto, que a disputa está muito acirrada e chegaremos hoje nas urnas sem uma definição do resultado, como em eleições anteriores.

Fatores aleatórios poderão influenciar no resultado, como abstenção causada por chuvas ou dificuldade de condução em regiões mais distantes. Também há uma indefinição sobre votos nulos e em branco e ainda há um número de indecisos que podem mudar o resultado numa eleição tão apertada como aparenta ser esta.
 
Por região, na pesquisa do Ibope, temos alguns dados importantes. Dilma lidera com folga no Nordeste (68% a 27% dos votos totais), sem alterações na margem de erro em relação à última pesquisa, mas Aécio cresceu 3 no Sudeste, passando a vencer por 50% a 39%. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, ele parece estar recuperando a maior votação que chegou a ter, de 67%. Está no momento com 63% a 37%. Em Minas, tem 54% a 46%. No Rio, a diferença a favor de Dilma é grande: 51% a 37%.

Há empate técnico no Norte/Centro-Oeste (Dilma 48%, Aécio 45%) e no Sul Aécio subiu 2 pontos e a presidente perdeu 3, ficando com 43%, enquanto o candidato do PSDB tem 47%.

A mais recente polêmica da eleição é a da edição antecipada da revista Veja com uma reportagem que revela que o doleiro Alberto Yousseff disse aos promotores que o ouvem na delação premiada que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma sabiam de todo o esquema de corrupção na Petrobras.

O PT denunciou a reportagem como golpista e membros da Juventude Socialista vandalizaram a sede da Editora Abril, que publica a revista, em São Paulo. O partido tentou ainda impedir a circulação da revista e conseguiu no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma proibição de divulgar a capa em qualquer mídia, o que foi denunciado pelos órgãos de defesa da liberdade de imprensa como um atentado à livre informação.

O PT mostrou nesse caso, além da habitual intolerância à imprensa independente, que tem dois pesos e duas medidas, pois no debate do SBT a presidente Dilma perguntou a Aécio sobre uma denúncia que acabara de ser publicada no site da Folha de S. Paulo, de que o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, já falecido, havia recebido dinheiro do esquema da Petrobras para boicotar a CPI sobre a estatal.

A notícia foi negada dias depois pelo próprio Yousseff, mas já fora utilizada no debate sem que ninguém do PT achasse golpe sua publicação em meio à campanha eleitoral.

O Globo, 26/10/2014