Pessoal mais comprometido com o governo insiste em declarar que até agora não surgiram provas definitivas sobre o "mensalão", considerando o parecer do relator da CPI dos Correios precipitado e até mesmo leviano.
Com exceção do Roberto Jefferson, que denunciou o esquema de corrupção instalado pelo PT e foi o único que admitiu ter guardado, se não me engano, 4 milhões de reais num cofre, os demais envolvidos negam qualquer tipo de suborno, receberam dinheiro, sim, mas para pagar compromissos de campanha.
Até aí, tudo bem, embora tudo seja um mal, a começar pelo financiamento das campanhas. Neste particular, a CPI dos Correios choveu no molhado, os denunciados admitiram os saques, mas juraram que foram feitos não em causa própria, mas em causa partidária e patriótica.
Onde a CPI realmente levantou a formidável corrupção do PT e do governo está realmente provado, embora não haja recibos nem confissões explícitas, como a de Roberto Jefferson. O nó da questão está na coincidência dos pagamentos com as votações de matérias de interesse do governo e do PT. Neste particular, o parecer do relator é claro, preciso, incontestável. É a relação de causa e efeito que não precisa de prova com assinatura reconhecida nos cartórios.
E a corrupção não deve ser atribuída e muito menos restrita àqueles que receberam dinheiro do Marcos Valério, que funcionou como um ônibus, um coletivo para concentrar recursos com os quais o PT e o governo quitariam seus compromissos assumidos durante a campanha.
Até certo ponto, os denunciados seguiram as regras do jogo político. Foram aliados do PT durante a campanha, assumiram compromissos que não foram pagos. Por que votariam a favor daqueles que lhes passaram o beiço, rompendo na prática a aliança que afinal elegeu o atual governo?
Resta a pergunta: e onde fica o bem público? Como dizem por aí, uma boa pergunta.
Folha de São Paulo (São Paulo) 28/12/2005