O Brasil passou a contar, a partir de setembro de 2005, com a sua mais moderna biblioteca inteligente, de início prevista para dispor de livros de filologia, mas depois se espraiando para outras áreas importantes do conhecimento, como é o caso da história, da literatura e do que chamamos de "brasiliana", livros basicamente destinados a contar e recontar o nosso País.
Trata-se da Biblioteca Rodolfo Garcia, que nasceu em 1998, quando assumimos a presidência da Academia Brasileira de Letras. Tivemos a idéia, depois submetida à aprovação do plenário, quando concluímos que não mais seria possível arquivar todos os livros da primeira biblioteca, que passou a se chamar "Lúcio de Mendonça". Com o tempo, apesar de bonita, tornou-se acanhada.
A primeira providência foi pensar o local. Ocorreu-nos a sugestão de esvaziar o segundo andar do Palácio Austregésilo de Athayde, por ser o único com ligação direta ao prédio administrativo. Disporíamos de acesso, além de um novo espaço de 1.300 m².
Pessoalmente, deslocamos escritórios, bancos e uma academia de dança para outros andares, abrindo mão de uma renda mensal, naquele andar, de 25 mil reais. A biblioteca seria mais importante, como hoje se demonstra na prática.
A etapa seguinte foi pensar o projeto. Com a ajuda da especialista Maria Eugênia Stein, grande animadora cultural, escolhemos a arquiteta Cláudia Carvalho para elaboração. Tivemos inúmeras reuniões, até que fosse dada como boa a versão para levar ao plenário da Casa de Machado de Assis, o que foi feito no segundo semestre de 1999, ainda na nossa gestão. Com o apoio de uma bateria de transparências, o projeto foi aprovado - e hoje é aplaudido por sua beleza e plasticidade.
Como era merecido, pois fora presidente da Biblioteca Nacional, fizemos uma apresentação especial ao acadêmico Josué Montello. Ele gostou muito do que lhe foi dado ver. Completamos a audiência, pedindo-lhe que sugerisse um nome para a nossa segunda biblioteca. Ocorreu chamá-la de Rodolfo Garcia, um grande historiador com quem Montello havia trabalhado anteriormente na Biblioteca Nacional.
Acolhida a sugestão do nome, submetemos em seguida ao plenário, onde foi plenamente aprovado. É claro que tudo isso consta das atas acadêmicas.
Restava começar a obra. Fizemos a limpeza do espaço, esvaziando o andar. Como não daria mais tempo, até o final de 1999, para começar a construção, nossa última decisão foi pedir ao plenário, no orçamento para o ano de 2000, a importância de 250 mil reais. Aprovada por unanimidade.
Outros presidentes, no democrático regime de rodízio da ABL, deram seqüência à iniciativa de que nos orgulhamos. Hoje, com um acervo de cerca de 70 mil obras literárias e históricas, algumas raras, a ABL oferece ao público de estudantes, professores e pesquisadores o que há de melhor, além de recursos técnicos especializados para educação à distância e videoconferências. Uma verdadeira e moderna universidade, como há poucas em nosso País.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 13/11/2005