Quase que de uma hora para outra, na política, as mulheres estão fazendo aquilo que antigamente se dizia: “botando as manguinhas de fora”. Deixaram a cama, o tanque e o fogão para ocupar o lugar que antes era de exclusiva obrigatoriedade dos homens.
Já foi época em que, segundo versão corrente que se ouvia em toda parte, no Nordeste brasileiro, as mulheres só falavam três frases na vida: ‘Não chora, menino!’, ‘Xô, galinha!’ e ‘Não me mate, marido!’.
Os tempos mudam, e nós, com eles – disse o poeta Virgílio. Hoje as mulheres não ganharam, mas conquistaram direito a dizer outras coisas – e a fazer também. São ouvidas nas academias, simpósios, congressos, colóquios, estão penetrando na política, ocupando cargos importantes outrora reservados aos homens.
Sem mencionar as muitas mulheres que estão no poder, temos no Brasil a oportunidade de discutir o nome de duas delas para a Presidência. Uma delas é executiva, outra seria aquilo que podemos chamar de formadora de opinião. Ambas com respectivo mérito.
Sou admirador de São Paulo, não o Estado, mas o apóstolo. Grande escritor e também formador de opinião. Em geral, concordo com ele, mas discordo de uma de suas mais conhecidas opiniões: ‘Mulieres in ecclesiis taceant’ – as mulheres devem se calar nas igrejas (Coríntios I, cap.14, v.34).
O ‘ecclesiis’ aí de cima não se refere especificamente às igrejas, mas aos comícios e reuniões públicas. Como se vê, São Paulo recomendava para elas a exclusividade da cama, do tanque e do fogão. Hoje, felizmente, elas estão aí, tomando decisões, sendo contestadas e aprovadas e não apenas desejadas como objeto de vil concupiscência.
Alvíssaras! Evoé! Nem tudo está perdido neste mundo insosso dos homens.
Jornal do Commercio (RJ), 1/9/2009