Usar o ministério da Defesa para fazer com que o poder militar se imponha sobre o poder civil é um passo perigoso numa democracia. É o que Bolsonaro tenta fazer e é o motivo da saída do general Fernando Azevedo e Silva. Nas entrelinhas de sua carta de demissão, ele deixa claro que se recusou a politizar o Exército e as Forças Armadas. Poucos dias antes, e não é coincidência, Bolsonaro começou a falar em estado de sítio.
O ministro da Defesa se incomodou muito sempre que Bolsonaro envolvia as Forças Armadas em política, falava em “meu exército”, e pedia sua presença em atos políticos. Se sentiu usado quando foi convidado para o voo de helicóptero durante manifestação antidemocrática em Brasília. Ali foi uma crise abafada, A saída foi exatamente por isso. Bolsonaro quer as Forças Armadas mais ligadas a ele e Azevedo e Silva não comprou essa ideia. Não creio que Braga Neto vá comprar tampouco. E mesmo que queria, no Alto Comando não há essa tendência. Precisamos acompanhar com atenção, pois essa jogada política de Bolsonaro pode gerar uma série de conflitos.
Azevedo e Silva se recusou a politizar Forças Armadas
O Globo, 30/03/2021