Recente entrevista nas páginas amarelas de Veja mostrou a atualidade do velho Maltus, o autor da fascinante advertência de que a população iria aumentar consideravelmente, vindo a tornar-se um problema gravíssimo no futuro. Segundo o entrevistado de Veja, esse dia chegou e o mundo está transbordando de populações. Pode-se fazer uma idéia aproximada do que seja uma população de um bilhão e duzentos milhões de habitantes na China, mais de um bilhão na Índia e nós aqui no Brasil caminhando para duzentos milhões.
Os chineses, com experiência milenar, mantiveram o partido comunista como força totalitária para garantir a disciplina e o respeito pelo governo do seu formigueiro humano. Até agora a China tem sabido se aproveitar do capitalismo no crescimento econômico e do totalitarismo político na guarda de suas instituições.
Oproblema demográfico que trouxe de volta o velho Maltus é desses que desafiam as mentes mais pacíficas e mais anódinas, pois mesmo em países como a China e o Japão o controle de natalidade verificou ser impossível, até mesmo para a feroz disciplina totalitária. Evidentemente, por mais imaginoso que tivesse sido Maltus, ele deu o serviço com sua previsão de que haveria um choque num futuro remoto entre as populações e os governos, e mesmo entre as populações no interior do território nacional.
Quem conhece os países super-povoados e tem capacidade de observador, sabe que o entrevistado de Veja tem razão ao apontar o crescimento demográfico como problema imperioso do nosso tempo.
O que os governos vão fazer não se imagina, nem mesmo se eles têm capacidade para enfrentar esse problema tremendo, angustiante, de nossos dias próximos e remotos. A conclusão é que o velho Maltus viu longe mas não abarcou todo o problema, por falta de elementos hábeis.
Diário do Comércio (São Paulo) 24/2/2006
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