Com a queda de Getulio Vargas, em 1945, por deliberação dos militares que depuseram o ditador o poder foi entregue ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares.
Naquele tempo, e, em parte, ainda hoje, o funcionalismo público, em seus vários graus (federal, estadual e municipal), era a espinha dorsal do mercado de trabalho brasileiro.
Linhares nomeou muita gente, inclusive parentes, o que fez o Barão de Itararé reclamar: “Não são Linhares, são milhares.”
Quando Juscelino nomeou um parente com o nome de sua família para importante cargo em estatal, o Correio da Manhã publicou o editorial mais curto da imprensa mundial: “O presidente da República nomeou um Kubitschek. Este nome não nos é estranho.”
O nepotismo é hoje condenado e com razão, mas na escala dos crimes institucionais é venial, como a gula, a preguiça e a soberba em relação aos pecados mortais, como o homicídio e o roubo.
Ao visitar José Alencar no hospital, Lula encontrou-se com o senador Eduardo Suplicy e reclamou: “Você está há 18 anos no Congresso e não sabia de nada?!” Não somente Suplicy, mas centenas de congressistas nesses últimos anos nada sabiam do que se passava nos porões da Câmara ou do Senado.
A onda moralista que a mídia desencadeou contra o Senado e em especial contra determinado senador lembra a virulência udenista, que, expressando a indignação das grandes parcelas da classe média, criaram as condições objetivas para o movimento militar de 1964. Lembro uma foto publicada do guarda-roupa da mulher de João Goulart com a legenda: “Até quando vamos suportar isso?”
Folha de S. Paulo, 26/7/2009