Retorno a um assunto que abordei recentemente: a necessidade de um aprimoramento da democracia representativa. Agora mesmo, uma pesquisa feita no Ceará e publicada num jornal de Fortaleza revela que mais de 70% dos eleitores já foram abordados por candidatos e seus cabos eleitorais que ofereceram dinheiro em troca de votos. Desse total, uma porcentagem significativa topou a oferta.
Deve-se acrescentar a grande parcela do eleitorado que troca o voto por benefícios específicos, promessas de emprego, casa própria, tratamento de saúde e até dentaduras. Nada de admirar que a corrupção escancarada no julgamento do mensalão, em diferentes níveis, tenha chegado ao ponto a que chegou, com a compra de votos dos próprios parlamentares para a formação de eventuais maiorias no Congresso.
Na presente campanha eleitoral dos Estados Unidos, os astros democratas e republicanos já gastaram bilhões de dólares arrecadados em forma de compromissos que deverão ser honrados pelos eleitos.
Não é caso para discutir a democracia em si, mas a forma pela qual ela é exercida para legitimar o exercício do poder. Afinal, o processo de votar seja em cascas de ostras, como na Grécia antiga (que consagrou a palavra "ostracismo"), seja em cédulas de papel ou em impulsos nas urnas eletrônicas precisa ser substituído por outra forma de captar o poder que vem do povo, princípio fundamental da própria democracia.
A humanidade chegou à Lua, ao celular, ao transplante de órgãos e a outras façanhas julgadas impossíveis. Seria o caso de juntar 10 ou 12 agraciados com o Nobel ou criar um prêmio internacional (e bem substancioso) para o gênio ou o grupo de gênios que bolasse outra forma de exercício democrático.
Folha de S. Paulo, 30/9/2012