Quem residiu no interior, conhece perfeitamente o diapasão cotidiano das conversas nas esquinas, nos bares e nos clubes, à noite. São sempre sobre política, sobre candidaturas, sobre este ou aquele candidato, se merece ou não o voto e, também, para ficar dentro da regra, falar mal da vida alheia, ainda que não seja nada ofensivo. Enfim, o interior do País, e os bairros populares, onde muitos se conhecem, as conversas não são diferentes.
Graças ao campeonato mundial de futebol, a Copa do Mundo, disputada por diversos times de diversos países na Coréia do Sul e no Japão, os assuntos estão pululando como pipoca em caçarola e todos têm do que falar, com abundância de palavras, durante horas. Os passes do Ronaldo, os dribles do Rivaldo, a velocidade do Cafu e, assim por diante, alimentam ainda hoje as conversas de bares e de clubes do interior e também dos bairros da capital.
O futebol, principalmente, tem uma atuação magnética sobre a massa urbana, principalmente, graças à televisão, que todos, sem exceção, dos palácios do Morumbi e Jardins às favelas que envolvem São Paulo num cinturão de miséria, possuem e fica essa massa diante de sua tela horas e horas a fio, vendo as novelas ou, no caso dos jogos, vendo as disputas, como as que agoram reuniram vários países.
É o mundo em que vivemos, este, o mundo da comunicação, da informação, das massas, e dos vizinhos que se encontram e sabem como trocar algumas palavras sem exagero. Lamentavelmente, apenas, é que nos bairros mais distantes têm se registrado crimes, exatamente, por causa do futebol e outras conversas que provocam exaltações. Mas esses fatos são de todas as grandes cidades, umas mais, outras menos, e são severamente combatidos pelas autoridades. São estas algumas considerações sobre conversas do interior.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) em 05/07/2002