A revelação de que vencedores do leilão para compra de arroz no exterior para supostamente equilibrar a oferta do produto no país foram empresas especializadas em comércio de leite e laticínios do Macapá, ou de locação de veículos e máquinas de Brasília, tisnou em parte os esforços do governo federal de apoio ao Rio Grande do Sul na tragédia das enchentes ainda em curso.
A desconfiança de que alguma coisa andou errada no procedimento é reforçada pela denúncia do setor agrícola de que o mercado nacional está em condições de suprir a demanda de arroz. Além do fato de que o governo pretende vender o arroz importado com preço tabelado e selo do governo federal, o que caracterizaria não uma decisão para regular o mercado, mas de cunho político-eleitoral.
Há uma frase famosa, atribuída ao político francês Talleyrand falando sobre os Bourbon, que voltando ao governo depois de 25 anos repetiram os mesmos erros, que poderia ser aplicada ao PT: “Não aprenderam nada, não esqueceram nada”. O governo joga no Rio Grande do Sul uma cartada importante não apenas para se mostrar atento e cuidadoso com os efeitos da tragédia, mas para tentar entrar em uma região, o sul do país, dominado pela oposição, às vésperas das eleições municipais.
Esses movimentos atuais terão repercussão de longo prazo, que alcança até a eleição presidencial de 2026. A aposta do governo de que a economia desenhará o cenário de viabilidade de Lula nas eleições de 2026 tem se mostrado até o momento incompatível com a realidade, e a tragédia do Rio Grande do Sul interfere nessa avaliação, pelos efeitos negativos na economia de um dos estados mais importantes do país, e também no peso da ajuda financeira que precisa ser dada fora do planejamento original.
Os bons resultados atuais na área não têm sido suficientes para que Lula receba, automaticamente, a aprovação esperada do eleitorado. Ainda restam cerca de 65% do mandato atual do presidente Lula, e navegamos em águas desconhecidas, mas as apostas eleitorais começam a ser feitas. O economista Claudio Porto, fundador da Macroplan, consultoria especializada em análise prospectiva e estratégia, traçou três cenários para a próxima sucessão presidencial, em 2026.
DERROTA DE LULA. Em 2025, Lula dobra a aposta na agenda nostálgica e decide investir no acirramento da polarização, já endereçada em 2022 (e cuja semente foi plantada em 2009, quando, em Recife, declarou que a eleição de 2010 seria uma disputa de “nós contra eles”). A atuação extraordinária do governo Lula no Rio Grande do Sul é percebida muito mais como oportunismo eleitoral do que uma iniciativa necessária e republicana e, dessa vez, Lula perde a eleição.
VITÓRIA DE LULA. Após um resultado eleitoral pífio para a esquerda ortodoxa nas eleições de 2024, e com uma razoável atuação e reconhecimento no Rio Grande do Sul, Lula resolve dar “um cavalo de pau” no restante do seu governo e faz uma guinada estratégica em direção ao centro democrático. Decide repetir o Lula 1, muda a agenda e o time de seu governo, ganha tração, boa vontade e faz renascer o otimismo. O Brasil reconquista o grau de investimento, a economia e o emprego crescem de modo expressivo. Lula ganha a eleição de 2026.
RESULTADO INCERTO: AMBIGUIDADE DELIBERADA. Pelo menos na narrativa, Lula opera com uma ambiguidade deliberada de acordo com seus instintos e hábitos ao longo de 2025. “Um dia no cravo, no outro na ferradura” Não se compromete; utiliza argumentos e atitudes dúbias. É uma aposta na continuidade da polarização, de um lado, e na esperança - repetição do quadro eleitoral de 2022 – de outro. Busca a elevação da popularidade a partir de resultados entregues à população, como uma razoável atuação do governo no enfrentamento da crise no Sul do país.