Pode, suponho eu, parecer esquisito um membro de dois institutos históricos, o brasileiro e o paulista, pedir o arquivamento do passado. Mas, uma vez explicado o pedido, tenho a certeza de que meus eventuais leitores entendam que tenho razão. Começo por aplaudir o presidente Luís Ignácio Lula da Silva, que pediu o arquivamento histórico do período dos generais no poder, por reavivar feridas ainda não cicatrizadas, mas conformadas pelo tempo.
Os beneficiados pela anistia, alguns com polpudas importâncias totais de uma só vez e mensais, com vantagens que superam os vencimentos de juízes do STF e do próprio presidente da República, mas, entendamos que é melhor para eles, e não adianta emitir opinião sobre o vulto dos ganhos. O que está feito, e sacramentado pelo poder superior, não haverá volta atrás. Tenham a atenção, portanto, em outras regiões.
Desde logo, o presidente está coberto de razão, pois de nada adianta a ação como consolação pelos parentes de vítimas lembrar ocorrências, desmandos e exageros de ação de uma fase da história republicana, que teve crédito positiva, com o alto índice percentual do desenvolvimento, com a modernização da estrutura econômico-financeira, uma área correspondente às nações mais adiantadas do mundo, com a evolução acentuada do sistema de transportes, enfim, o progresso.
De outro lado, houve perseguições a ativistas da esquerda e da extrema esquerda. Nesta houve excessos, com mortes, o que é lamentável, mas é de todas as revoluções, como prova a história da Revolução Francesa, que, por intermédio de Robespierre, inaugurou o terror como fórmula de exercer o governo da nação. Esse passado é o que Lula quer sepultado no esquecimento, e os historiadores a ele fazem referência em obras já publicadas ou farão a serem publicadas. Nisso estou de acordo com Lula, lamentando os excessos e os mortos, com a orfandade e a viuvez que deixaram.
Diário do Comércio (São Paulo) 04/11/2004