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Arco/PE/Tom

 

Alegrou muito aos pais de Marcantonio, seja na condição de simplesmente pernambucanos, seja na de cultivadores das seduções da arte contemporânea, o brilho da presença de nossa terra na ARCO.


Os jornais abriram merecido espaço na repercussão dessa feira de arte que se realiza em Madrid, neste ano em honra do Brasil, com relevância reconhecida aos talentos de Pernambuco.


Várias vezes tenho dito que passei pela fase ignorante de desconhecer a força da arte contemporânea, como se fosse possível matar o calendário, estiolando o permanente processo de criação do Homem. Fui despertado pelo filho. Vi que não via, passei a ver e não apenas a olhar. Descobri a energia da interação do criador com o observador e daí em diante me enriqueci.


Desconfio fortemente de certas inteligências obtusamente avessas ao mero exame da inovação. Gente que não tem disposição para o diferente. No mínimo, pode-se dizer que é preconceito, quando não, pobreza de percepção.


A cada espaço de tempo, ou de tempo nos espaços, a arte contemporânea ganha mais solidez na história da arte universal. É só conferir museus, feiras, edições de livros, número de galerias, mundo afora.


Deploro Marcantonio não estar conosco. Estaria na ARCO vendo a sua terra brilhar. Ele foi dirigente da ARCO e, no dizer de artistas como Vik Muniz ou Adriana Varejão, de crítico de arte como Celso Fioravante ou de galeristas como Valu Ora ou Oscar Cruz ou Celso Albano, o introdutor da arte brasileira de prestígio na ARCO.


No ano passado, em Madrid, escutamos dirigentes da Feira, seus ex-colegas, amargurados com a fatalidade. O Brasil homenageado e Marcantonio sem estar presente.


Confortou aos seus pais que ouviram as pungentes declarações o fato de que esse reconhecimento havia, ainda que confirmando as Escrituras, de que é difícil ser profeta em sua terra.


Quando as Marias foram ao túmulo de Jesus, um anjo lhes apareceu e anunciou espécie de pré-ressurreição, dizendo-lhes: NON EST HIC. Bem mais tarde, o padre Antônio Vieira explicava o sentido da palavra do anjo. Ele não estava ali, estava no coração da mãe.


Marcantonio está no coração da mãe. No coração da mãe é como se visitasse galeria por galeria na ARCO e descansasse da peregrinação pelo bom gosto, abrigado pelos expositores de Pernambuco.


Terão se lembrado dele?


Sei lá. Ninguém é profeta em sua terra...


Diário de Pernambuco (PE) 24/2/2008