O procurador-geral da República, Augusto Aras, resolveu assumir de vez o lado contrário à Lava-Jato. Desde o início, ele sempre teve posição reticente à operação e aprofundou a crise desde que mandou uma procuradora a Curitiba, sem falar com ninguém, para fazer um levantamento dos assuntos sigilosos que estavam sendo tratados lá. É um problema sério porque Aras não representa o Ministério Público e não tem apoio entre os procuradores, pois foi escolhido fora da lista tríplice e sempre provocou muita animosidade dentro da procuradoria. O caso é interessante, porque o MP deveria se orgulhar das forças tarefas da Lava-Jato, que funcionam muito bem, com resultados espetaculares, apesar de muita gente criticá-las. Mas é um debate, que está aí há anos. Outra coisa é a PGR assumir uma posição de que precisa controlar, conter os excessos e evitar ilegalidades na Lava-Jato. É dar um tiro no pé do próprio MP e tudo indica que há um sentido político. Com essas acusações, Aras coloca em risco, diante da opinião pública, a credibilidade da operação.
A postura de combate à corrupção, durante a campanha, é mais uma das balelas de Bolsonaro, como todas as coisas que falou – ele não é liberal coisa nenhuma, e está levando a política econômica para o populismo que até ameaça as contas públicas. Desistiu do combate à corrupção quando apareceram as primeiras denúncias contra ele e seus familiares. Tentou controlar a PF e Aras, que está na disputa para assumir a vaga de Celso de Mello no STF em novembro, toma atitudes de prestar favores a ele, ao controlar essas investigações.
Aras assume posição contrária à Lava-Jato
O Globo, 29/07/2020