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Apagão e prosperidade

 

O apagão é contra-sinal de prosperidade. O ministro Mantega tem razões que a razão ignora.


O Globo de sexta-feira informa que o apagão aéreo piora e que o ministro Mantega declara que isso é "sinal de prosperidade"... Direi eu que o ministro tem razões que a razão ignora, pois um apagão aéreo é, sem dúvida, contra-sinal de prosperidade. Tenho deixado de assistir às sessões da Academia Brasileira de Letras porque esse "sinal de prosperidade", chamado vulgarmente de apagão aéreo alastrou-se pelos aeroportos e a ABL é rigorosa em seus horários. Lamento ter que discordar do brilhante ministro da Fazenda.


Todo esse noticiário televisivo e impresso sobre o apagão aéreo é o "sinal de prosperidade" que se torna pior contra a opinião do ministro da Fazenda. A regra no Brasil é ter aviões velhos voando, pessoal de terra reclamando aumento de salário e o gentil ministro da Fazendo insistindo no sinal da prosperidade que não vejo evidente nos aeroportos. Todos os usuários do transporte aéreo, que são milhares, discordam do ministro da Fazenda, como também discordam do depoimento da ministra do Turismo Marta Suplicy, que aconselhou os passageiros a relaxarem e gozarem.


Enfim, o transporte aéreo está em crise e nos domínios do governo não querem acreditar nessa realidade evidente para quem vai aos aeroportos, certos que irão viajar e não viajam.


O transporte aéreo não é fácil, ao contrário, é extremamente difícil, pois deve contar, primeiro, com aquiescência do passageiro e de outros fatores que concorrem para fazer da aviação comercial um exercício hipotético de confiança absoluta na companhia que vai transportá-lo. O Brasil teve sempre um bom transporte aéreo, que glorificou a competência e a autoridade de Salgado Filho - fundador do transporte aéreo no Brasil -, nos velhos tempos dos aviões importados dos EUA e carência de aeroportos, devido ao custo elevado.


Em suma, o transporte aéreo não é próspero, a não ser quando não existe o apagão, que agora ameaça uma instituição fadada a durar.


Diário do Comércio (SP) 25/6/2007