A inquietação da sociedade brasileira segue em progressão geométrica, qual o corona vírus Covid-19, e a insatisfação com a ação do governo, especialmente do presidente Jair Bolsonaro, que volta e meia tenta minimizar a gravidade da situação, começa a se manifestar nas redes sociais e em panelaços, por enquanto ainda restritos a capitais.
Para mapear expectativas relativas à intensidade e à duração dos impactos da crise global provocada pela Covid-19 sobre a economia brasileira, o economista Claudio Porto, fundador da Macroplan, consultoria especializada em análise prospectiva e estratégia, conduziu na segunda semana de março sondagem junto a um grupo de 150 pessoas de todo o país, entre eles economistas, sociólogos, cientistas políticos, engenheiros, gestores sênior de empresas pesquisadores e professores de universidades.
O resultado desta sondagem evidencia que a quase totalidade dos consultados está muito pessimista quanto à intensidade dos impactos do Corona vírus sobre a economia brasileira: 86% acreditam que será alta ou muito alta. Já quanto a duração da crise, a convergência é menor: 59% acreditam que será muito curta ou curta, enquanto 41% acreditam que será longa ou muito longa.
A combinação das respostas obtidas sobre a intensidade dos impactos do corona vírus e sua duração configura, segundo a Macroplan, quatro probabilidades distintas: a) “impactos de alta intensidade, mas de curta duração” (expectativa de 51%), b) “alta intensidade e longa duração (35%), c) “baixa intensidade com longa duração” (8%) e d)“impactos de baixa intensidade e curta duração ( 6%).
Diante de uma conjuntura muito volátil, na qual os fatos e as percepções mudam com grande rapidez, a sondagem da Macroplan captou como as expectativas tornaram-se mais pessimistas com o passar dos dias, em 17 e 18 de março, quando o panorama para “Impactos de alta intensidade e de longa duração” alcançou 60% de probabilidade, e os de curta duração foram ‘zerados’.
Apoiado nos cruzamentos de percepções da sondagem realizada pela Macroplan e com base em análises dos panoramas macroeconômico, político-institucional, social e da saúde pública, o economista Claudio Porto, da Macroplan, antecipa três cenários plausíveis para o Brasil em 2020, considerando, contudo, que o quadro atual é de muita incerteza e impede qualquer previsão mais assertiva, especialmente aquelas baseadas apenas em modelos matemáticos e preditivos.
No cenário “A reconquista da normalidade”, o melhor, mas de menor probabilidade, a realidade finalmente se impõe a todos os atores políticos. O núcleo duro do Governo muda em face da intensidade da crise, assume um comportamento cooperativo como seu novo padrão de relacionamento político-institucional, uma reviravolta surpreendente, mas positiva, no que tem pronta resposta dos principais atores políticos.
“Aos trancos e barrancos” é , segundo a Macroplan, o cenário mais provável (probabilidade média de 35% - mas de 60%, considerando os últimos dias da sondagem), e configura uma continuidade do Brasil atual.
A realidade finalmente se impõe ao conjunto de todos os atores políticos, mas “à brasileira”, pela metade, alternando mais com menos. O núcleo duro do Governo Federal muda de comportamento, mas apenas temporariamente. No princípio, mais cooperativo, mas com sucessivas recaídas de confrontação, no que tem resposta semelhante dos principais atores políticos.
O pior cenário, e que Porto considera como improvável, é “A marcha da insensatez”. Uma ruptura em relação ao Brasil atual, com uma escalada desenfreada de autoritarismo populista. Os laços de coesão social, já enfraquecidos, se rompem numa espiral ascendente de polarização. (Amanhã, detalhes de cada cenário)