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Antes que seja tarde

 

Estão esperando o quê? Um desastre com um avião da Varig, com uma centena de mortos? É do conhecimento de todos, do governo principalmente, e do público em geral, as dificuldades que a companhia atravessa, não apenas em seu escalão estrutural mas operacional, com aviões encostados e manutenção problemática.


É um milagre que a maior e mais conhecida empresa aérea brasileira esteja no bagaço administrativo e técnico, com grande parte de sua frota no chão, sem peças de reposição, com pessoal estressado, temendo o futuro e sem condições de enfrentar o presente com os salários em dia.


Toda vez que viajo em um avião da Varig, considero a tripulação um grupo de heróis que procura cumprir suas funções de forma exemplar, embora com recursos cada vez mais precários.


Na semana passada, fiz o vôo Milão-Rio. Tirante a simpatia e o alto grau de profissionalismo da tripulação, foi uma viagem esquálida na apresentação do equipamento, no cansaço das comissárias que pareciam estar voando há dias sem descanso, na comida servida, mesmo na classe executiva, na base das quentinhas dos restaurantes populares.


Um milagre, repito. O avião saiu e chegou no horário, o vôo não teve turbulências e, sobretudo, não despencou lá de cima, matando-nos a todos.


Mas, se continuar na crise que atravessa há tempos, a companhia terá de encerrar sua carreira no espaço e ir para outro espaço: o da falência, o da extinção. Bem sei que há cabeças duras no alto escalão da Varig e que o governo ainda não encontrou um modo de salvá-la. Mas, bolas, para que serve a criatividade que empresários e governantes devem ter para ser empresários e governantes?


A impressão lamentável que os usuários têm é a de que os responsáveis pela empresa e pelo governo esperam um desastre de grandes proporções para tomar providências, sejam lá quais forem, mas que não darão vida aos que morrerem.


 


Folha de S. Paulo (São Paulo) 11/04/2006

Folha de S. Paulo (São Paulo), 11/04/2006