É, de fato, muito festivo sempre cada 20 de julho. Em 2007, em liturgia adequada, comemoramos os 110 anos da Academia. Ainda em outubro estávamos a dar partida aos registros do centenário de Machado de Assis, na embaixada do Brasil, em Londres. Um chefe de posto digno das tradições de Rio Branco, José Bustani, presidiu os atos daquela semana rica. Na ocasião, luzia a Academia pelo brilho da inteligência e do conhecimento de Sergio Paulo Rouanet, em conferência mestra.
Este mês, voltamos ao aniversário da Academia nessa revisitação dos prazeres e orgulho, que Cícero Sandroni comanda, no exercício de sua presidência privilegiada.
De muitas comemorações nos alimentamos, encimadas pelo nome de Machado de Assis e enriquecidas com datas redondas. Entre outras, as que se dedicam a Guimarães Rosa e, na seqüência, a Euclides da Cunha. Já a avistar a reverência a Joaquim Nabuco, também um dos nossos fundadores, brasileiro de Pernambuco, que liderou a abolição e se ocupou da transformação social a ela subseqüente.
É muito bom que seja assim. Exercita-se o mandamento estatutário e acalenta-se o imperativo do coração na louvação aos fazedores da Cultura.
Fica deste modo ostensivamente posto o sentido que a Academia dá a tais comemorações. Reviramos escaninhos, produzimos um tipo de ressonância para melhor compreender homens e períodos, aprofundamos análises de idéias, estabelecemos inclusive o contraditório para alcançar sístoles e diástoles em verdades ainda encobertas.
A ABL é, também, uma casa para a memória.
Sabemos que comemorar é forma de lembrar juntos e em festa. Se fosse só para o arruído e o foguete de lágrima não seria necessário ativar uma academia de letras. Bastaria o floreio ingênuo ou o discurso piedoso de grêmio literário escolar. Há que se avaliar criticamente.
A Casa de Machado de Assis não é o que convencionalmente se chama no paleio intelectual de grêmio literário.
À Academia, igualmente, não se permite a infertilidade do absenteísmo. Nem só festas, nem só silêncio monacal. Por isso, foi ato responsável a idéia que nos consagrou de discutir o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, numa rememoração que parte do nome de Medeiros e Albuquerque e chega aos de hoje. Poderíamos até com a alta disponibilidade que nos faz ricos de saber específico, ter ousado mais, tendo presente as próprias obrigações da Academia.
Enfim...
No capítulo dos compromissos com a nossa Língua é positiva a ação de editar um novo Dicionário, um novo Vocabulário Ortográfico e de criar e manter no portal da Internet o bem sucedido serviço "ABL responde", a provar também pelo uso imaginoso dos meios eletrônicos, expansão criativa e consonância com a modernidade. Afinal de contas há no mundo 1.1 bilhão de internautas e o Brasil comparece a essa massa de modo significativo.
Está claro que para valer a pena a Academia não poderia ser pequena. Pensar pequeno é morrer submerso pela velocidade dos tempos.
Jornal do Commercio (RJ) 24/7/2008