O jornalista José Trajano, ele também apaixonado pelo clube rubro, citou-me outro dia como membro de uma pequenina e barulhenta torcida do América Futebol Clube. Senti-me honrado. No momento em que se comemora o primeiro centenário do time de Belford Duarte, o mais disciplinado zagueiro de todos os tempos, fiz as contas e concluí que torço pelo Mequinha há 60 anos.
O fenômeno não começou no berço, mas quando fui morar na Tijuca, primeiro na Hadock Lobo, depois na Doutor Satamini. Passei a freqüentar o clube, para nadar em sua piscina de 20 metros, e ganhar mais de 50 medalhas. Como o dinheiro era curto, ou melhor, curtíssimo, a solução dos dirigentes, para não perder o promissor nadador, foi dar-lhe uma carteira de sócio-atleta, que ele procurou honrar de todas as formas, a principal das quais no exercício pleno da lealdade.
Segundo time de todos os fluminenses, o América, que foi sete vezes campeão carioca, se desenvolveu como "o mais simpático". Deu grandes jogadores ao futebol brasileiro. Lembro agora, para citar um modelo, o grande Danilo Alvim, figura exemplar da seleção. Alguém me lembrará o eficiente Jorginho, que começou a jogar também em Campos Sales. E haverá um destaque especial para Edu, irmão de Zico, que o craque do Flamengo considerava o melhor de todos os Antunes.
Aos domingos, antes dos jogos, tínhamos o ensejo de confraternizar com outros grandes craques, como Osni do Amparo, Maneco, Dimas, Ranulfo, Esquerdinha, Hilton Viana, Canário, César e, mais recentemente, Luisinho. É tanta saudade que os olhos umedecem, na lembrança de feitos como o campeonato carioca de 1960 (final contra o Fluminense) e a Taça Guanabara de 1974.
Vivendo ali nas cercanias do clube, cujas cores defendia também no basquetebol (três campeonatos juvenis), voleibol, futebol infanto-juvenil (de campo), posso recordar o começo da vitoriosa carreira de Zagallo, que, além de atuar na ponta esquerda do juvenil (depois transferiu-se para o Flamengo), foi campeão carioca da terceira divisão de tênis de mesa pelo AFC. Foi também um grande pegador de balão na praça Afonso Pena, ponto de encontro da garotada da época.
Acompanhei de perto a triste passagem de Heleno de Freitas pelo clube, brigando com o técnico Délio Neves. Assisti à construção das arquibancadas do estadinho de Campos Sales, confraternizei com o genial Cartola (depois administrador do clube) e ainda vi Lima, de perto, jogando pelos veteranos.
Uma pena que o futebol tenha decrescido tanto, logo agora que dispomos de um belo estádio na Baixada Fluminense, com o nome glorioso de Giulite Coutinho, grande benemérito. Ele ainda está na ativa, sonhando com a ampliação do conjunto esportivo e a inauguração de uma escola de futebol, para ocupar em Belford Roxo nada menos de 500 atletas mirins. É ousadia, mas também a prova objetiva de que o América F.C. continua vivo, lutando pela sua merecida redenção.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 27/09/2004