Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > América Latina e o Brasil dos Brics

América Latina e o Brasil dos Brics

 

O protagonismo internacional do Brasil no mundo dos Brics e de uma nova globalização vem suscitando cada vez mais a compreensão do seu perfil latino-americano. Ou melhor, de como as assimetrias cada vez mais nítidas com os nossos países fronteiriços, nos deixam no polo oposto das velhas perspectivas de integração continental. 

O que se vê, sim, é todo um campo de cooperação e a partir, sobretudo, da Amazônia e do esforço comum da Colômbia, Equador e Peru, num processo conjunto de tomada de consciência ecológica, de limitação da indústria da agricultura extensiva e, sobretudo, da luta contra o comércio de drogas. Este poderá implicar a constituição de uma política internacional na coordenação ampla do desbarato do sofisticadíssimo caminho que leva ao Primeiro Mundo o produto das exportações da coca andina.
 
Um bilateralismo inevitável marcaria hoje o avanço das relações do Brasil com a Bolívia nas novas negociações sobre o gás, de que somos os primeiros consumidores no altiplano. Para além das limitações do intercâmbio, como no caso do Paraguai, o incentivo das relações entre os dois países reveste perspectiva quase assistencial, na entrega pelo Brasil, ao governo de Assunção, de suas quotas na exploração do complexo hidroelétrico de Itaipu. É, por outro lado, o nosso investimento direto na infraestrutura do Equador que está permitindo, através de grandes companhias construtoras brasileiras, a aceleração de seu complexo rodoviário na ligação Leste-Oeste da América Latina.
 
O grande ponto de interrogação vem, necessariamente, do desbalanço crescente no intercâmbio entre o Brasil e a Argentina, especialmente após o impasse da reordenação fiscal portenha, com vistas à efetiva retomada de uma política de desenvolvimento econômico, saindo do impasse presente do governo Kirchner entre o país industrializado e a permanência de seu latifúndio, na dominância da dinâmica de suas exportações de agricultura extensiva.

Tais contrastes, por isso mesmo - nota hoje a Comunidade Andina -, se somam em utopias ou visões ideais dos mercados latino-americanos e, sobretudo, no perene recomeço da Unasur. Depararíamos, nesse contínuo de novas metas e pontos de partida, a debilitação da segunda potência latino-americana, vista como a nação enferma
do continente.

Seminários, como o ora realizado pela Universidade Andina Simon Bolívar, em Quito, só reforçam a exigência da reformulação das unanimidades piedosas, em torno do mercado comum latino-americano, em bem da aceitação da assimetria com o nosso país, mas, sobretudo, a de, pelo intermédio brasileiro, deixar-se o cativeiro da velha visão de um mundo de centros e periferias. Somos a ponte, sim, para o mundo dos Brics, no que é já o eixo Pequim-Brasília, como a nova relação Norte-Sul do arranco do século.

Jornal do Commercio (RJ), 29/7/2011