Os três totalitarismos que dominaram o mundo no século passado e introduziram, mesmo, como assinalei no livro O mal na História , não fizeram de pronto, mas numa evolução que culminou na submissão ao sistema partidário, com sua hegemonia total sobre as instituições políticas. A democracia, que já florescia desde Alexandre II na Rússia, que florescia na Itália de Victor Emmanuelle e na Alemanha de Weimar, acabou soterrada pelos totalitarismos.
O partido, como dizem todos os tratadistas de ciência política, embora seja recente na História, segundo acentuou Maurice Duverger, acabou sendo a força irresistível que destrói a democracia e toma conta, literalmente falando, da nação, ficando todos os habitantes sujeitos aos órgãos dirigentes partidários. É esse o temor que devem suscitar os partidos, quando se juntam para ter força decisiva nos órgãos representativos, nos Congressos e nas Assembléias.
O PT, por seus dirigentes, uma grande parte constituída de antigos membros do Partido Comunista e das organizações de extrema-esquerda, quer a hegemonia política, para o presidente não ter trabalho na direção dos negócios do Estado. É aí que corre o perigo de sermos engolfados pelo totalitarismo partidário, que obtém as leis que quiser do Congresso emasculado pela aliança. Chamo, como estudioso, a atenção dos brasileiros que me lêem, que esse é um perigo para democracia.
Os partidos devem ser dois, um na situação outro na oposição, como nos Estados Unidos, onde, no entanto, é inteiramente livre a constituição dos partidos políticos. Ou na Inglaterra, onde conservadores e liberais ou trabalhistas disputam o poder, sem uma Constituição escrita e sem empecilhos para as disputas partidárias. Mas a Inglaterra é bem dirigida, o que não ocorre com outros países, inclusive o nosso. O que nos interessa é que o PT não seja hegemônico. Isto em nome da democracia.
Diário do Comércio (São Paulo) 25/11/2004