A eleição do novo presidente da Câmara ganhou ontem uma definição mais clara, apesar de nada menos que 16 candidatos terem se apresentado. O surgimento da candidatura de Marcelo Castro pelo PMDB, ex-ministro de Dilma, numa manobra articulada pelo ex-presidente Lula, o torna o único a ser batido pelas forças aliadas do governo interino de Temer.
O receio de interferir na disputa fez com que o governo abrisse mão de seu poder, dando espaço para esse tipo de traição branca da bancada do PMDB. Temer apressou-se a salientar que a escolha de Castro é uma prova de que o governo não interferiu na disputa, mas, assim como é inevitável ela ir para o segundo turno com esse número exagerado de candidatos, também será irrecusável para o governo interino apoiar outra candidatura que não a do PMDB, caso Castro chegue lá, o que tornará o jogo político interno paradoxal e mais perigoso para Temer.
Marcelo Castro entra na disputa com a chancela do PT, por ter votado contra o impeachment da presidente Dilma, e por isso mesmo é o candidato contra quem todos os outros do “centrão” e da antiga oposição se aliarão num segundo turno.
O deputado Rodrigo Maia torna-se, assim, uma opção tanto para os partidos que formavam a antiga oposição ao governo petista – PSDB, DEM, PPS, PSB – como do próprio governo interino, se conseguir chegar ao segundo turno. Ele tenta um acordo com Julio Delgado, que já estava implícito caso o deputado Heráclito Fortes saísse vencedor na bancada pessebista: quem tivesse mais chance cederia a candidatura ao outro. Fortes tinha mais acesso a voto em outros partidos, mas perdeu a disputa interna, e agora trabalha para que o PSB apóie Rodrigo Maia.
O racha da esquerda fica por conta da candidatura de Erundina, lançada pelo PSOL, e de Miro Teixeira pela Rede, mais anticandidaturas do que reais possibilidades de vitória. Os dois servem, no entanto, para marcar posições de independência e recusa a esses conchavos que transformam a disputa da presidência da Câmara em palco de manobras de bastidores, com candidatos nem tanto ocultos de Lula (Marcelo Castro) e de Eduardo Cunha (Rogério Rosso) entre os mais cotados.
Erundina tenta, até aqui em vão, o apoio do PT e de outros partidos de esquerda, defendendo uma posição não pragmática, mais ideológica. Miro Teixeira, que já foi cotado, decano da Câmara que é, como candidato de consenso, apresenta-se em nome de reivindicações específicas da sociedade civil, especialmente na defesa do combate à corrupção como maneira de sanear a atividade política.
Se posta, portanto, como o candidato contrário aos conchavos quem dominam a disputa e espantam os leigos, admirados com a ambição de tantos por um cargo que está manchado indelevelmente pela história política de Eduardo Cunha.
Num momento de crise política e econômica como o que vivemos, é realmente espantoso que tantos candidatos se coloquem no páreo sem que a maioria apresente plataforma de fortalecimento institucional da Câmara. Quase todos querem o poder de barganha que o cargo dá, até mesmo diante do governo interino, mas poucos são os que colocam o fortalecimento moral da classe parlamentar como elemento essencial das candidaturas.
Todos negociam troca de posições em mesas e comissões, ou ainda a futura eleição para o novo período de dois anos, sem levar em conta que o mandato-tampão de agora deveria servir de busca de mudanças de atitudes para melhorar a imagem dos deputados.
A noite em Brasília será intensa, e pode ser que o dia da votação amanheça com menos candidatos.