Convidado, fui no último dia 24 à Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro assistir à missa in memorian do já legendário banqueiro, ou bancário, como ele preferia ser chamado, Amador Aguiar, meu saudoso amigo. A pompa romana, as vozes da missa cantada, o coral do próprio Bradesco e a letra da missa fizeram a beleza da cerimônia em homenagem ao grande criador do poderoso Grupo Bradesco.
Pude então refletir sobre a existência do banqueiro, que teve apenas dois anos de grupo escolar rural e o mais que aprendeu o fez por sua conta. O banqueiro Amador Aguiar foi um desses homens de quem Hélio Jaguaribe, meu confrade na Academia Brasileira de Letras, costuma dizer que, se tivéssemos vinte deles, chegaríamos onde os Estados Unidos chegaram. Imagine-se o que exigiu de esforços, de tenacidade, de perseverança no objetivo a alcançar, de campanhas sutis de aborrecimentos, de adversidade, de falta de colaboração dos poderes públicos, para chegar onde chegou.
Penso a esse respeito em outros grupos que sustentam a economia brasileira e a preparam para o grande salto que se aproxima e que lhe deverá ser favorável. Felizmente, o Brasil não foi dotado somente do criador do Bradesco e de seus homens de confiança, mas, também, de executivos de notável capacidade, que sustentam a confiança no futuro da Nação.
Na igreja meditei, enquanto ouvia à missa, no que representa postumamente o espírito de Amador Aguiar para os seus colaboradores. Sua mesa na sala da diretoria é um totem, que impele os dirigentes do banco a agirem como ele agiria.
Com essa reflexão, dentro da missa a que eu assistia e sem cometer pecado por dela me desviar um pouco, acabei por me convencer do misterioso que é o nosso destino. Na homenagem, eu me vi levado por esse mistério, que nos prepara em suspeitados fatos de nossa história íntima, com os quais não contávamos. É a vida.
Diário do Comércio (São Paulo) 1/2/2006