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Alguma coisa no ar

 

A nova Lei de Falências, sancionada na semana passada, me parece tão incompreensível quanto a Pedra da Roseta antes de Champollion - e, mesmo depois dele, continua sendo um mistério para mim. Apesar disso, louvo a atuação do vice José Alencar, favorável a uma saída para a crise que sufoca as companhias aéreas.


O vice derrotou, nas entranhas do governo, a corrente liderada por Palocci e Zé Dirceu, que defendia uma solução ortodoxa para o problema criado, segundo dizem, por má administração e dissidências internas da nossa maior companhia aérea. O decreto deixou aberta uma porta para a recuperação, ainda possível, não apenas da Varig mas de outras empresas que fazem o país funcionar.


Não é argumento, em nome do bem público, manter esquemas viciados ou incompetentes. Trata-se de um problema de saneamento e, por que não, de ajuda e compreensão, sobretudo quando diz respeito a serviços que se tornaram indispensáveis. Não sei se esse é o caso específico da Varig, acusada de todos os lados e modos. Nem por isso ela merece ser levada às cordas antes do nocaute final.


A criatividade do governo, cada vez mais discutível, poderá encontrar o caminho que preserve a nossa principal companhia aérea de sair do ar. Voltando ao passado, acho que houve mutreta grossa na tumultuada liquidação da extinta Panair, que detinha a mesma posição que hoje a Varig ocupa.


A nova Lei de Falência, na medida em que mantém uma saída para a difícil situação que a companhia gaúcha atravessa, não deve nem pode ser um entrave ao desenvolvimento das concorrentes. Em tese também as beneficiará, a curto ou a médio prazo.


Um país como o Brasil, sem navegação de cabotagem - que durante séculos foi nosso principal meio de transporte -, com deficiente malha rodoviária e com ferrovias em coma, tem necessidade cada vez maior do serviço aéreo, sem o qual regressará ao tempo dos tropeiros.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 14/02/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 14/02/2005