Os modismos aqui chegam, mas em geral custam a pegar. Desde a época do Descobrimento, as cartas com as novidades demoravam mais de um mês, trazidas pelas valentes caravelas portuguesas. E alguma coisa para virar modismo, naqueles tempos, não era fácil. Como espalhar pela colônia?
Há mais de 40 anos que se discute no Brasil o emprego da educação à distância. Outros países foram avançando na eficiente modalidade, como é o caso do Canadá, da Inglaterra e da Austrália, entre outros. Aqui, depois de tempos espaçosos de preguiça (ou medo do novo), em que muita bobagem foi escrita, como o receio de que se tornasse um supletivo de terceira classe, felizmente caminhamos para uma reação favorável, a partir do que foi prescrito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (n 9.394/96).
Hoje, há mais de 310 mil alunos brasileiros freqüentando cursos via educação à distância, no nível superior, o que já é uma prova de que acordamos para o que é muito comum em universidades americanas, como tivemos a chance de verificar em visita à Nova University, na Flórida. Os seus 15 mil alunos estudam no regime de meio a meio, com um pormenor essencial: as avaliações são sempre presenciais, o que evita qualquer possibilidade de fraude.
Agora, a moda é citar a inclusão social, de que a digital obviamente é parte. Cerca de 25 milhões de brasileiros com mais de 16 anos têm acesso à internet, mas devemos pensar que somos uma população de 180 milhões de habitantes. Ainda é pequeno o índice dos que têm esse privilégio, mais adstrito a escolas particulares, tornando bem visível o fosso entre incluídos e excluídos digitais, no quadro geral de pobreza do país.
É claro que existe muita esperança na liberação dos recursos do Fust (Fundo de Universalização das Telecomunicações), que está perto de acumular cerca de 4 bilhões de reais. Alimentado com 1% do faturamento das concessionárias de telefonia, não está sendo colocado à disposição de processos saudáveis, como o acesso à rede mundial de computadores para escolas, bibliotecas, hospitais, postos de saúde, órgãos de segurança, entre outros. Foi tristemente jogado no processo de reforço do superávit primário. Como ficam o treinamento e o aperfeiçoamento de professores e especialistas de que tanto carecemos?
Queremos a inclusão para todos, como instrumento de justiça social. O presidente Lula assinou decreto, no dia 26 de abril, criando um Grupo de Trabalho Interministerial com a finalidade de elaborar anteprojeto de regulamentação dos artigos 221 e 222 da Constituição e da organização e exploração dos serviços de comunicação social eletrônica. A coordenação será do Ministério das Comunicações, que já convocou a colaboração de entidades de grande vigor intelectual, como é o caso do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional.
O trabalho deverá ser conjunto para ampliar o alcance do atendimento e também minorar os efeitos da confusão legal que cerca as atividades imbricadas de telecomunicações e de radiodifusão, em nosso país. Harmonizar esses procedimentos será uma grande conquista, até que se possa lançar luzes mais fortes, igualmente, no que se entende por geração de conteúdos.
Enquanto isso, voltamos a insistir numa tese que sempre foi preocupação do cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI. Desde o Concílio Ecumênico Vaticano II há pleno convencimento de que “a educação é dada no lar e na escola”. Na prática, isso não está ocorrendo entre nós. Pesquisas mostram que muitos pais não têm capacidade para ajudar os filhos no emprego da internet. Quando se espantam com o avanço da pornografia no poderoso instrumento é uma razão a mais de preocupação. Ser analfabeto digital, no mundo de hoje, é colaborar de alguma forma para o desvirtuamento do uso do computador, seguramente uma das maiores invenções da Humanidade. Mas que se justifica pela nobreza dos seus propósitos, sobretudo educacionais, e não baixarias indefensáveis.
O Globo (Rio de Janeiro) 26/05/2005