Um leitor nos encaminha a pergunta: “Por que ‘diretor-geral’ ou ‘diretoria-geral’ é grafado com hífen, e ‘gerente geral’, por exemplo, não?” Está certo o emprego do hífen em ‘diretor-geral’ ou ‘diretoria-geral’, e, se o leitor viu escrito sem hífen ‘gerente geral’, ele pode considerar o fato como errôneo?
A formação de todos esses compostos se enquadra naqueles referidos no início da Base XV, do novo Acordo Ortográfico, hifenados se entre os dois termos não houver palavra de ligação; portanto, teremos de grafar igualmente com hífen ‘gerente-geral’. Acerca do segundo termo, “geral”, ensina-nos Rebelo Gonçalves no seu “Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa”, tantas vezes citado nesta coluna: “Que dos muitos compostos em que entra o elemento ‘geral’ com o sentido de ‘principal’ ou ‘primeiro em hierarquia’ (...) O elemento ‘geral’ é preferido pela língua contemporânea ao equivalente ‘mor’, mas o seu emprego não data de agora, como provam exemplos de alguma antiguidade: contador-geral, intendente-geral, ouvidor-geral, etc.” (pág. 204 n. 2).
Outro leitor reclama a omissão de registro no VOLP da dupla possibilidade de grafia de ‘suborizonte’ e ‘suborizontal’, como fez em ‘sub-hepático’/ ‘subepático’ e ‘sub-humano’/ ‘subumano’, conforme procedimento dos Acordos de 1943 (do lado brasileiro) e 1945 (do lado português). Estabelecido o princípio ortográfico geral, a natureza de um vocabulário como o VOLP o desobriga de registrar todas as opções possíveis dentro da regra geral. Se não ocorreu a forma ‘suborizonte’ no acervo lexical que serviu de base ao VOLP, ela não teve entrada na obra, o que não significa sua inexistência nem que a grafia esteja errada. A aglutinação dos dois elementos e consequente eliminação do hífen (subepático) tem mais uso na terminologia técnica e científica.
Chega-nos outro conjunto de perguntas sobre o verbo arguir: “Na 2ª edição do ‘Dicionário escolar’ elaborado pela ABL e publicado pela Companhia Editora Nacional, registra-se na página 71 a conjugação do verbo ‘arguir’, com o infinitivo ‘arguir’ /u:i/ e o particípio ‘arguído’ acentuado. Já na página 158, o verbete registra ‘arguir’ [güi] (ar.guir). Na 5ª ed. do VOLP registra-se ‘arguir’ (ü) e ‘arguido’ (ü) sem acento agudo. Qual a informação adequada?”
Com exceção do particípio ‘arguido’, que no VOLP, por falha de revisão, aparece sem acento agudo na vogal “i” [deveria estar ‘arguído’, como aparece no “Dicionário escolar”], todas as informações, embora apresentadas de modo diferente, estão certas e coincidentes, conforme passaremos a demonstrar.
A representação ‘arguir’ /güir/ procura avisar ao consulente do verbete do “Dicionário Escolar” que o ‘u’ é proferido como semivogal do ditongo. Na página 71 a representação ‘arguir’ /u:i/ acrescenta à informação anterior uma outra: além de a sequência vocálica poder ser lida como ditongo, pode ser lida como hiato, isto é, a semivogal ‘u’ do ditongo /güir/ passa a ser proferida como vogal do novo hiato, que é representado por (u:i). Este modo de representação com dois pontos intermediando dois sons vocálicos para indicar a dupla possibilidade de ocorrência de ditongo ou hiato foi usado pelo eminente e saudoso lexicógrafo brasileiro Antônio Geraldo da Cunha, falecido em agosto de 1999, no “Vocabulário Nova Fronteira da Língua Portuguesa”, elaborado sob sua liderança editorial. Portanto, o verbo ‘arguir’ tem um só modo de ser conjugado, como recomendaram as três obras citadas, especialmente o “Dicionário escolar” na página 71.
Por fim, lembramos ao atento leitor que ‘arguir’ é um verbo regular como ‘influir’, ‘atribuir’, etc., que tem, nas formas rizotônicas (aquelas em que o acento tônico recai sobre o radical), a tonicidade sobre o ‘u’.
***
Depois de permanente presença, em dois anos, encerra esta coluna sua atividade neste excelente veículo de comunicação, agradecendo a sempre prestimosa atenção dos que nos honraram com seu carinho e companheirismo. As respostas dadas nesta coluna durante este período serão reunidas em um livro que sairá em breve pela Editora Nova Fronteira com o título “Bechara responde”.
O Dia (RJ), 11/3/2012