Aconteceu com Saddam Hussein, Bin Laden e, agora, com Kadafi. Líderes importantes, como Obama, declararam que o mundo ficou melhor sem eles. É possível. Numa das perseguições aos cristãos durante o Império Romano, um dos Césares mandou erguer uma coluna que até hoje existe, declarando que não havia mais cristão na face da Terra e que o mundo seria melhor.
Não estou comparando nada com ninguém, apenas lembrando que o alívio da humanidade quando morre um ditador criminoso, como Kadafi, em geral é um alívio mal informado. Quando Júlio César foi assassinado, Brutus comunicou à plebe que o tirano estava morto -e recebeu aplausos. Foi preciso que Marco Antônio, logo em seguida, pronunciasse seu famoso discurso para reverter o sentimento do povo.
E depois do primeiro César (o mais importante deles), vieram outros como Calígula, Nero, Vespasiano etc., que não tinham sequer o passado glorioso do conquistador das Gálias. Mesmo assim, o assassinato de ditadores, segundo Shakespeare, seria uma cena repetida ao longo dos séculos e em países que nem ainda existiam naquele tempo.
Nos impérios orientais, a sucessão de tiranos sanguinários foi quase ininterrupta. A situação na Líbia, mesmo com a queda e a morte de Kadafi, está longe de ser tranquila. Não é hora de soltar foguetes, muita coisa ruim ainda pode acontecer naquele país sem tradição democrática.
Lembro igualmente aquele tenor que, depois de cantar a ária principal de uma ópera, foi vaiado vergonhosamente pela plateia enfurecida. Atiram-lhe ovos, tomates e sapatos. Resignado, enfrentando de cabeça baixa a irritação e os insultos do público, o tenor limitou-se a dar um aviso que, na realidade, era uma ameaça: "Vocês não viram nada. Esperem pelo barítono!".