RIO DE JANEIRO - Não me dei ao respeito de acompanhar com a devida atenção os dois fóruns realizados simultaneamente -um na Suíça, outro no Pará. E olha que não tinha nada de importante para fazer ou pensar. Esnobei as duas assembleias por considerá-las inúteis, ou, na melhor das hipóteses, redundantes.
Mesmo assim, graças ao controle remoto, peguei sem querer o encerramento da turma de Belém, um sujeito lendo um documento que me pareceu a ata final da reunião -tanta gente reunida e de tantos países, certamente produziu outras atas, que, somadas e analisadas, denunciam o que deve ser denunciado e exigem o que deve ser exigido. Após considerações gerais e protestos de continuar a luta, o texto entrou nos finalmentes. Foram lidas as exigências fundamentais, que me pareceram três, todas iniciadas com o indefectível "exigimos".
Umas pelas outras, exigiam medidas para a preservação do meio ambiente, sobretudo da água que faltará ao planeta se não forem tomadas as providências sugeridas. A água é nossa. Temos a maior bacia de água doce do mundo, e a ganância dos negocistas internacionais insistem nos atentados ecológicos, principalmente na construção de hidrelétricas que inundam cidades e florestas, agridem a flora e a fauna de espécies raras etc. etc.
Honestamente, por mais que me esforce, não tenho opinião sobre isso, sobre a investida do licencioso progresso contra a virgindade da natureza. No final do século 19, os plantadores de cana do norte fluminense quiseram impedir a colocação dos trilhos da Estrada de Ferro Dom Pedro 2º, futura Central do Brasil. O argumento era poderoso: as fagulhas que saíam das marias-fumaças causavam incêndios nos canaviais -e, naquele tempo, a cana só servia para fazer açúcar, rapadura e cachaça.
Folha de São Paulo (SP) 05/02/2009