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Agora é na política

 

Mais uma frustração para o presidente Bolsonaro. A nova pesquisa do Ipec não traz grandes mudanças e, quando elas acontecem, são a favor de Lula, que voltou a ter a possibilidade de vencer no primeiro turno pelos votos válidos: 51% a 35%. Bolsonaro ficou parado, e Ciro perdeu um ponto percentual para Lula. Nos segmentos em que Lula mais cresceu, como entre as mulheres, Bolsonaro também cresceu.

Todos os crescimentos, no entanto, ficaram na margem de erro, maior que dois pontos percentuais para mais ou para menos nas análises por segmento. Mudanças lentas, mas desta vez a favor de Lula. O que mais deve preocupar o pessoal da campanha bolsonarista é a desaprovação do governo, que continua alta, 15 pontos percentuais a mais em relação à aprovação segundo a nova pesquisa: 30% de ótimo/bom ante 45% de ruim/péssimo. Nunca houve um presidente reeleito com saldo negativo na avaliação, segundo levantamento do cientista político Alberto Carlos de Almeida.

Fernando Henrique foi reeleito em primeiro turno com 43% de ótimo e bom e 17% de ruim/péssimo em setembro. O saldo positivo entre as duas avaliações era de 26 pontos. Lula foi reeleito em segundo turno com 20 pontos de vantagem sobre Alckmin, com 46% de ótimo/bom e 18% de ruim/péssimo em setembro. Um saldo positivo de 28 pontos. Muitos se perguntamo motivo que levou a eleição para o segundo turno. De acordo com Alberto Carlos, com esse saldo Lula poderia ter vencido no primeiro turno. A explicação mais plausível (e menos charmosa) é que sua intenção de voto sofreu um efeito de mídia negativo: o escândalo dos aloprados. Para ele, foi por causa desse escândalo que Alckmin teve mais votos no primeiro que no segundo turno, puro efeito de mídia passageiro.

Dilma foi reeleita com dificuldade em segundo turno, apenas 3, 28 pontos de vantagem sobre Aécio, com 36% de ótimo/ bom e 24% de ruim/péssimo em setembro. Bolsonaro tem, em setembro, segundo esta nova pesquisa, 30% de ótimo/ bom e 45% de ruim/péssimo. Dos quatro presidentes que disputaram a reeleição, é o único com saldo negativo: 15 pontos. Alberto Carlos diz que Bolsonaro caiu nas intenções de voto entre junho e dezembro de 2021 porque a avaliação de seu governo piorou. Bolsonaro subiu nas intenções de voto em 2022 porque a avaliação de seu governo melhorou.

Tomando como referência as três reeleições anteriores, a avaliação precisa melhorar muito até 2 de outubro para que ele se torne o favorito, diz o cientista político. 'Isso pode ocorrer? Teoricamente sim, mas é improvável', afirma. As pesquisas realizadas depois do 7 de Setembro mostram que não houve impacto no eleitorado, e Bolsonaro continua empacado nos 30%, percentual equivalente à taxa de avaliação de ótimo/bom de seu governo.

Fora isso, o fato político relevante foi promovido por Lula, recebendo o apoio de sua ex-ministra Marina Silva. Aceitando o compromisso de criar uma Autoridade Climática independente dos ministérios, o ex-presidente fez um gesto republicano de ampliar sua candidatura em bases programáticas, num tema central para o mundo hoje: a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade do desenvolvimento econômico.

Foi uma vitória política também de Marina, que se recuperou depois de superada no plano ambiental dentro do governo Dilma. Ela não apenas se tornou uma candidata presidencial de peso nas eleições posteriores - sem contar em 2018, em que todos os candidatos moderados foram atropelados pelo fenômeno do bolsonarismo - , como volta agora à aliança como PT em condições de impor sua visão do preservacionismo sustentável no programa de um provável governo Lula.

A tentativa de criar uma candidatura do campo do centro democrático está se concretizando à medida que as necessidades da campanha se impõem à máquina petista. A escolha de Geraldo Alckmin para a Vice-Presidência foi imposta ao partido por Lula. Ele sabe mais que ninguém tourear suas alas mais radicais, que chegaram a exigir uma campanha em moldes mais agressivos e ainda tentam fazer com que o voto útil leve Lula a vencer no primeiro turno.

Lula faz movimentos mais sutis, não encampa a campanha que quer culpar eleitores não bolsonaristas de Ciro ou Tebet por uma improvável vitória de Bolsonaro. 'Ser contra Lula hoje é ser bolsonarista', dizem esses incultos políticos, que não enxergam um palmo adiante do nariz. Lula sabe que precisará desses eleitores num eventual segundo turno e também para governar. Enfrentará uma máquina radicalizada e, se quer ser o presidente da pacificação, não pode brigar hoje com os aliados de amanhã.

O Globo, 13/09/2022