Quando se visita a Fortaleza de São José, na Ilha das Cobras, no centro do Rio de Janeiro, onde funciona o Comando-Geral dos Fuzileiros Navais, a primeira impressão é a de que se está dando um verdadeiro mergulho na história do Brasil.
Construída entre 1728 e 1736, com preciosos achados em suas escavações, abriga há cerca de dois séculos o Corpo de Fuzileiros Navais, nascido oficialmente em 1809, por iniciativa do então príncipe-regente D. João VI, com o nome inicial de Brigada Real da Marinha.
Tem sido intensa a participação dos FN em episódios da nossa história, a partir da conquista de Caiena, passando pela ocupação da Banda Oriental, a Guerra contra Artigas, a Revolução Pernambucana, a Guerra da Independência, a Confederação do Equador, a Repressão ao Comércio de Escravos, a Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Sabinada, a Guerra do Paraguai, a Revolta da Armada (João Cândido ficou preso na masmorra da Fortaleza de São José), a Revolta do Forte de Copacabana, a Revolução de 30, a Intentona Comunista, a Revolução Integralista (1938) e a II Guerra Mundial.
Os soldados do Corpo de Fuzileiros Navais, mais recentemente, estiveram presentes na República Dominicana (Força Interamericana de Paz), Angola (Missão da ONU) e hoje colaboram na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti. Em todos esses espaços, há uma dupla inspiração, como foi comprovado pela simpática visita feita por dez membros da Academia Brasileira de Letras à corporação: a homenagem permanente à imortal Rachel de Queiroz, uma espécie de madrinha dos fuzileiros navais, e a palavra latina adsumus, que significa “aqui estamos”.
O Almirante-de Esquadra FN Álvaro Augusto Dias Monteiro, Comandante-Geral, que foi anfitrião do grupo de imortais, sob a liderança de Marcos Vilaça, fez questão de recordar o quanto a Marinha de Guerra era reconhecida ao carinho da autora de “O Quinze”: “Nossa vizinha na Ilha do Governador, Rachel de Queiroz deu seguidas provas de simpatia pela corporação. Admirava não só as evoluções da Banda dos Fuzileiros Navais e do seu conjunto sinfônico, mas também a história tão rica em exemplos de civismo e de amor ao Brasil”. Rachel costumava lembrar – e os seus amigos mais íntimos podem dar esse testemunho, a presença do Corpo de Fuzileiros Navais nas ações de defesa do país em episódios do 1o Reinado, da Regência, do 2o Reinado e da República. Era entusiasta dos princípios norteadores dessas atividades. Daí a beleza da placa com que foi homenageada a primeira mulher que entrou para a ABL.
O Museu da Ilha das Cobras, que recebe visitas constantes dos alunos da rede de ensino, é muito rico em preciosas recordações. A sua arquitetura colonial, preservada, é um modelo das fortificações que foram construídas para a defesa da nossa integridade territorial. Ali se resgata a epopéia da expulsão dos franceses, depois da tentativa de instalar a França Antártica. Há peças arqueológicas de inegável valor, como as moedas e as armas vigentes no período do Reinado. A Fortaleza de São José vale uma visita demorada.
Jornal do Commercio (RJ) 7/9/2007