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A admiração do tirano

 

Uma fração, a meu ver pequena, da juventude de nossos dias, pretende ver nos governos fortes, ou ditatoriais, a solução para as crises políticas, os parlamentos integrados por membros corruptos, por clientes fisiológicos dos aplicadores de propinismo, em benefício de negócios escusos e outras finalidades inconfessáveis. Esse desejo, que é de um número não apurado por pesquisas, está se acentuando, refletindo no prestígio de Lula, que já manifestou sua propensão para os governos fortes, quando elogiou o presidente do Gabão, não se sabe se por piada ou seriamente.


Durante anos, da independência das nações latino-americanas até meados do século passado, as revoluções eram freqüentes em todos, com exceção de um ou outro, que, no entanto, não foram de todo poupados, como a Costa Rica, onde a sombra de José Figueres como que estava presente em todas as repartições, mas, sobretudo em San Juan, mandando nos seus companheiros de outros tempos. Na realidade, o país vive agora uma época de agrado generalizado. É pequeno, mas bem governado, exatamente por ser pequeno, mantêm seu povo em estado de satisfação.


O Brasil não escapou dessa fatalidade da América Latina, onde o México tem a Copa de Ouro do pleno domínio de um partido durante longos anos em todas as suas instituições. A revolução de Madero, a grande, como me disse um motorista de táxi, nos dias em que estive no México. O presidente Madero, que acabou assassinado, era querido do povo, mas essa relação não o poupou e o México foi governado ou desgovernado durante longos anos por um partido único, Partido Revolucionário Institucional, uma contradição nos termos, até que Fox, com o auxílio dos Estados Unidos, derrubou a oligarquia e instalou-se no palácio presidencial.


O Brasil passou por revoluções, estados de sitio, ditaduras e hoje tem no poder um presidente eleito por esmagadora maioria de votos. É um antigo operário de montadoras de veículos, líder sindical e, finalmente, candidato à presidência pela terceira vez, da qual saiu ganhando. Parece querer uma reforma política que o mantenha no poder por vários anos, não apenas quatro com uma reeleição. Não é, evidentemente, democrático, como entendemos a democracia na América Latina, inspirada no modelo dos Estados Unidos, contra seus interesses, problema do qual não se deu conta até hoje, como, em sua época, expôs longamente o grande Joaquim Nabuco. Daí, insistirmos que é preciso proceder à reforma da nossa democracia, enquanto há tempos integra.


 


Diário Comércio (São Paulo) 06/10/2004

Diário Comércio (São Paulo), 06/10/2004