Durante muitos anos, quando se analisava o número de candidatos ao ensino superior, era comum saber que disputavam a liderança os cursos de Direito e Medicina. Administração e Pedagogia, nem pensar.
Em consequência de fatos ocorridos na década de 90, no âmbito de atuação do Conselho Nacional de Educação, a procura por Administração deu um salto – e fui testemunha disso, relatando em dois anos mais de 800 pedidos de autorização. O resultado é que, hoje, quando o Ministério da Educação abre as portas do Sisu para a oferta de vagas em instituições públicas de ensino superior, por um inteligente sistema online, verifica-se que a liderança ficou com Administração, cujas inscrições alcançam a impressionante cifra de 312.991 alunos.
Direito ficou em segundo lugar, com 262.255 inscritos e Pedagogia, para surpresa geral, em terceiro lugar, com 249.348. Nessa linha de frente, temos Medicina, tão necessária em todo o país, com 237.267 candidatos (4o lugar).
Revelamos nossa surpresa com a colocação de Pedagogia em virtude do pouco apreço social de que gozam os mestres, parte devido à perda progressiva de status, parte por causa dos seus baixíssimos salários, causa de sucessivas e resistentes greves do magistério em diferentes unidades do país.
As vagas oferecidas pelo Sisu chegam ao total de 205.514, o que na verdade não é pouca coisa. Não se pode revelar um grau elevado de satisfação com esse número, inclusive porque há certas distorções que merecem reparo. É o caso da Engenharia, que ficou em 7o lugar, quando se sabe das necessidades desses profissionais no quadro do desenvolvimento brasileiro. Só Petróleo e Gás apresentam uma extraordinária demanda. O que fazer sem os necessários recursos humanos? Aliás, não só em nível superior, mas também em nível intermediário.
Para os preocupados com o nosso futuro, vale a pena mostrar as demais colocações, no quadro de inscrições do Sisu 2015: em 5o lugar Educação Física (192.866 inscritos), 6o lugar Ciências Biológicas (141.182), 7o lugar Engenharia Civil (como já vimos), 8o lugar Enfermagem (123.532), 9o Psicologia (112.306) e 10o lugar Ciências Contábeis (109.550), esta uma surpresa, pois estimava-se que o curso estivesse a caminho da extinção.
Graças aos números de que o nosso sistema hoje é pródigo, podemos analisar com mais propriedade o que está acontecendo. E, é claro, tirar importantes ilações, como pensar nas razões pelas quais ainda não temos, nas primeiras colocações, os cursos ligados à Informática. O Brasil tem mais celulares do que habitantes e, não obstante isso, revela-se uma carência de pessoal qualificado no setor, o que parece não ter muito sentido. Já existem bons autores que preveem o fim da internet para daqui a alguns anos. O receio é de que uma boa parcela da nossa população não esteja devidamente preparada para enfrentar esses desafios, passando ao largo do progresso estimado. Isso para nos situarmos no campo em que Steve Jobs e outros menos votados brilharam e brilham intensamente.