Para iniciar um novo ano, a prudência nos recomenda tomar certas providências. Por isso ou aquilo, degradação dos homens e da natureza, o ano que passou foi marcado por calamidades que produziram enchentes, desabamentos e tsunamis, cuja responsabilidade foi creditada à natureza, que se sente agredida cada vez mais pelo homem.
Também tivemos calamidades que não foram causadas pela natureza, ficaram na ficha suja dos homens que abusaram do direito de cometer aquilo que dona Dilma chamou de malfeitos. Escândalos sempre existiram, como enchentes e outros acidentes naturais, mas, neste ano que ontem acabou, houve exagero tanto da parte dos homens como da natureza.
Por isso mesmo, tratei de desencavar dos meus guardados uma oração que era rezada em horas críticas. É em latim, que parece ser uma língua bem aceita lá em cima, ou lá embaixo, onde os problemas podem ou não podem ser resolvidos. O título nem precisa ser traduzido: "Ad repellendas tempestates." Textualmente: para repelir tempestades.
Confesso que não costumo rezar, desaprendi as orações da minha juventude e, principalmente, não tenho a quem rezar nem a quem pedir nada, a não ser que me deixem em paz, não na paz do Senhor, mas na minha própria paz.
Mas fiquei tranquilo sabendo que pessoas devotas, em diversos lugares do mundo, rezarão essa oração "ad repellendas tempestates". Que as tempestades sejam repelidas neste ano que hoje se inicia.
Vamos ter mudanças de ministério, além das mudanças climáticas que nos esperam.
Que venham as tempestades da natureza, contra a qual pouco podemos. Quanto as tempestades provocadas pelos escândalos e pela corrupção da qual estamos fartos, não custa apelar para o fervor de nossas preces.
Folha de São Paulo, 1/1/2012