RIO DE JANEIRO - Uma de nossas glórias, consolo das gentes, é que as misérias nacionais são relativamente pífias, problemas que a Justiça e a polícia, em querendo, podem enfrentar. Volta e meia, um ufanista retardado constata que somos um país felizardo, porque, além de nossas borboletas azuis e de nossas murmurantes cascatas, não temos vulcões nem terremotos.
Já era. No último fim de semana, houve aquilo que os jornais antigamente chamavam de "abalo sísmico", e como não poderia deixar de ser, foi em Minas, onde sempre acontecem coisas. Não foi nada apocalíptico, com milhares de mortos e prejuízos gerais que motivam a piedade da ajuda internacional.
Mesmo assim deixou um morto, nosso primeiro mártir nesse tipo de catástrofe natural. Que seja o primeiro e último -temos tantos problemas que podemos dispensar esse tipo de flagelo. De qualquer forma, lá se foi nossa virgindade em termos de abalos sísmicos. O caminho está aberto, temos movimentos de placas subterrâneas que podem fazer estragos em nosso chão já castigado por tudo o que botamos em cima dele.
O jeito é segurar a outra castidade, a dos vulcões. Já li, não sei onde, que o Pão de Açúcar, aqui perto de minha casa, é um vulcão extinto. Não entendo nada do assunto. Mas que ele parece mesmo com um vulcão aposentado, emérito como um professor da USP depois de certa idade, parece.
Não sei o que preferir: a morte por abalo sísmico ou pela lavra até agora improvável do Pão de Açúcar. Alguns amigos enfrentaram tremores de terra. O embaixador e poeta Alberto da Costa e Silva, na Colômbia, e o só bastante poeta Thiago de Mello, no Chile. Uma experiência que julgo dispensável. De vulcão mesmo, não conheço ninguém que tenha sido vitimado por um deles. Espero não ser o primeiro.
Folha de S. Paulo (SP) 11/12/2007