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2007

 

RIO DE JANEIRO - Para muitos, já vai tarde. É a velha mania de cuspir no prato em que se comeu. Bem ou mal, o ano acaba e a maioria da humanidade continua -a menos que no último instante o fim do mundo, tão anunciado pelos profetas, realmente aconteça.


Descartada a hipótese, podemos fazer um balanço do que passou nos últimos meses. Cada um pode fazer sua lista pessoal, mas há uma lista genérica, como os remédios que o Zé Serra introduziu quando ministro da Saúde. Ficarei com dois desses genéricos que de alguma forma nos estarreceram em 2007.


O primeiro deles foi o desastre que fez 197 vítimas fatais e numerosas vítimas que não chegaram a morrer, mas foram prejudicadas pela vulnerabilidade do tráfego aéreo. Durante meses, praticamente até agora, ainda ficamos desconfiados quando temos de enfrentar aquilo que os entendidos chamam de "aeronave" e nós outros chamamos de avião mesmo.


O outro genérico foi menos trágico, chegou a ser divertido. O presidente do Senado transformou uma jornalista em gestante, dava-lhe pensão suspeita de ser bancada por uma empresa. O senador tinha outras complicações em sua vida contábil, teve de renunciar ao cargo que exercia, e a gestante, recuperada a sua forma física, foi consumida nua e em cores pela plebe rude.


São dois eventos que não ameaçam ficar na história deste começo de século e de milênio. Mas revelam que, uns pelos outros, os anos passam e continuamos na mesma, sujeitos a desastres e a escândalos cada vez piores.

Para compensar, tivemos os primeiros cem anos do Oscar Niemeyer, devidamente saudados por todos. Ele, sim, será uma referência do nosso tempo e de nossa paisagem. Comovente a sua paciência em aturar aqueles que perguntam como é viver cem anos.


Folha de S. Paulo (SP) 30/12/2007

Folha de S. Paulo (SP), 30/12/2007