Essa publicação faz parte da coleção Coleção Austregésilo de Athayde
Embora egresso do modernismo de 1922, Dante Milano é, na verdade, anterior ao movimento modernista, do qual participou à distância e ao qual, efetivamente, jamais se filiou nem durante nem depois da festiva e turbulenta década de 1920. Não há dúvida de que apoiou o movimento, pois nele via, como todos os artistas da época, um caminho de libertação estética. A rigor, entretanto, o Modernismo pouco ou nada teria a oferecer-lhe em termos de subsídio literário ou de plataforma estética. E mais: à época da agitação modernista, o poeta Dante Milano já estava pronto, infenso, portanto, a quaisquer aquisições mais profundas e radicais do ponto de vista formal, ainda que aberto e sensível às conquistas expressionais do movimento. Por outro lado, dizer-se que, entre 1920 e 1948 - quando saiu a primeira edição das Poesias -, haja ele se conservado na condição de bissexto não procede: Dante escrevia muito - e muitíssimo destruiu do que escreveu -, conquanto nada publicasse em livro até aquela data. A que se deve, então, esse altivo silêncio, essa monástica reclusão, esse obsessivo mutismo editorial - cúmplice, talvez, daquela "vocação póstuma" a que já aludimos? É o que tentaremos decifrar, leitor, se possível com o teu benévolo e empático beneplácito. [...] [Ivan Junqueira em "Dante Milano: o pensamento emocionado"].