Essa publicação faz parte da coleção Coleção Afrânio Peixoto
“Há muitas controvérsias envolvendo a vida de Casimiro de Abreu. Uma das mais persistentes, das que mais têm despertado a curiosidade dos que se interessam pela sua história, é a que se refere ao local do seu nascimento, que ele próprio, sutilmente, fez questão de camuflar. Já houve quem o desse como nascido em cinco ou seis diferentes pontos do território fluminense. E como seria motivo de orgulho para qualquer município saber-se berço natal do autor de Primaveras, é compreensível que a velha questão siga rendendo seus frutos. Depois de quinze anos de obstinadas pesquisas, depois de ler quase tudo que se escreveu a respeito, devo dizer que, hoje, se me perguntarem: "Afinal de contas, onde nasceu Casimiro?", responderei sem pestanejar que foi em Rio das Ostras. Mas se me pedirem a resposta por escrito e com a firma reconhecida em cartório, me negarei a dá-Ia, por não dispor de um documento que a comprove expressamente. Nisso, contudo, não me diferencio em nada dos demais biógrafos do poeta, uma vez que, pelo existe de provas documentais, ninguém pode, de modo honesto e seguro, reconhecer a firma em cartório. Nisso estamos quites.”
“O cenário em que se desenrola a infância de Casimiro é mais amplo do que sempre se supôs. Ele inclui Rio das Ostras (onde o poeta teria nascido, a julgar pelos muitos e fortes indícios que existem), Barra de São João (onde foi batizado, alfabetizado, e sepultado ao lado do pai), lndaiaçu, hoje a cidade de Casimiro de Abreu (que ele freqüentou, e onde morreu em 18 de outubro de 1860), além de alguns lugares da antiga e vizinha Freguesia de Nossa Senhora do Amparo de Correntezas, em Capivari, hoje Silva Jardim (RJ), como Rio do Ouro ( onde ficava a fazenda da mãe), Corridos (onde vivia o tio paterno Claudino Antônio Marques de Abreu), Madruga (dentro da atual Reserva Biológica Nacional de Poço das Antas, onde viviam a avó materna, Joaquina das Neves Silva e Pinto, e o tio materno, Manuel Joaquim Pinto Osório) e o deslumbrante Salto d'Água, onde vivia o outro tio materno, José Joaquim Pinto Osório, e onde existe uma tranqüila e bela cachoeira, provavelmente a mesma em que, nos versos de "No lar", o poeta disse haver-se banhado em seu cansaço infantil. Casimiro passou metade da existência no vale do São João: de 4 de janeiro de 1839, quando veio ao mundo, ao dia IS de julho de 1849, quando, levado pelo pai, a bordo do patacho Fluminense, deixou para trás as verdes paisagens da aurora da sua vida e tomou a direção do Rio de Janeiro. Estava, na verdade, sendo expulso do paraíso. Daí em diante, sua vida entraria por trilhas imprevistas e ele iria, acima de tudo, revelar-se poeta. Não um poeta qualquer, como tantos que surgiram nessa fase de formação da literatura brasileira, mas um dos maiores e mais amados que a língua portuguesa produziu.” (Mário Alves de Oliveira)